Preservação da morfologia celular

A preservação da morfologia celular é um parâmetro importante da qualidade da técnica imunocitoquímica (ICQ). No entanto ele nem sempre está presente em artigos científicos sobre qualidade em ICQ, e mesmo a grelha de avaliação do UKNEQAS para ICC & ISH (controlo externo da qualidade para imunocitoquímica e hibridação in situ do Reino Unido) é tácita relativamente a este ponto.

Mas você pode perguntar:

Se a ICQ tem a ver com deteção antigénica, como pode interferir com a morfologia da célula? Essa não é uma questão pré-analítica?

Sim, numa primeira abordagem esta questão faz sentido. A preservação da morfologia celular é influenciada principalmente pelo tempo de isquemia a frio (tempo que decorre entre a colheita e a fixação) e pelo tipo de fixador e condições de fixação. Assim, uma fixação no mais curto intervalo de tempo possível após a colheita e o uso de um fixador adequado são os principais fatores pré-analíticos que condicionam a morfologia.

No entanto devemos ter em conta que a técnica ICQ tem procedimentos agressivos para a célula (o mais notório será a recuperação antigénica). Esses procedimentos podem interferir com a morfologia ao ponto de a destruir, inviabilizando a interpretação. Relembro que a ICQ é uma técnica in situ, na qual é essencial interpretar a imunomarcação em conjugação com a morfologia. Imagine a seguinte situação: se numa lâmina você observar apenas manchas castanhas não pode afirmar se se trata da reação resultante da deteção do antigénio, pode se tratar de depósito de cromogéneo ou de uma reação inespecífica.

Veja como exemplo a seguinte imagem, na qual se pretende identificar células que expressem CD45 (leucócitos).  A preservação morfológica é tão má que inviabiliza a interpretação, não se consegue perceber qual o contexto da imunomarcação. Está marcando linfócitos, ou marcando inespecificamente células epiteliais?

Agora compare com outra amostra, para o mesmo anticorpo primário. Na imagem seguinte é possível observar células bem preservadas com imunomarcação membranar bem nítida.

Como avaliar este parâmetro?

Deve observar se a estrutura celular está integra, com citoplasma e núcleo bem preservados e mantidos. Sugerimos que, no final da observação, caracterize a qualidade deste parâmetro numa de três categorias:  

0 – Morfologia alterada, que interfere ou inviabiliza a análise da imunomarcação

1 – Morfologia alterada, mas que não interfere com a análise da imunomarcação

2 – Morfologia mantida.

Se tiver com problemas na preservação da morfologia as principais causas poderão ser:

– Pré-analítica (isquemia, condições de preservação/transporte, fixador)

– Recuperação antigénica muito agressiva (diminua o tempo e ajuste o pH da solução de recuperação);

– Peroxido de hidrogénio muito concentrado ou tempo de incubação muito longo;

– Temperatura de incubação muito elevada (caso recorra a métodos automatizados).

 

Ficou esclarecido? Se tiver alguma questão adicional escreva abaixo.

Até ao próximo post,

Sedimenta.

 

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